Desde a primeira infância, meninos e meninas desenvolvem uma forte noção das diferentes expectativas sobre como devem se comportar e se relacionar com os outros. Estas noções são ensinadas e reforçadas por seus pares, família, mídia, escola e comunidade às quais pertencem, por meio de um processo complexo e dinâmico de socialização. Sofremos também, interferências de valores de acordo com a religião, classe social e etnia.
Desta maneira, nossa identidade vai sendo construída antes mesmo de nascermos. Durante a juventude, esta construção é uma das tarefas mais marcantes e cruciais para a transformação de um jovem em adulto. Este processo implica em questionar e dar um novo significado ao que a sociedade, a família e os pares dizem sobre o devemos ser, pensar e desejar para nós e para os outros.
A questão de gênero é importante porque estabelece expectativas culturais a respeito do que se espera de um homem e de uma mulher num determinado momento histórico. Então, se por um lado o gênero norteia a construção de nossas identidades, por outro pode gerar relações de poder no que se refere ao acesso de homens e mulheres aos recursos sociais, econômicos e ao poder de decisão nas relações interpessoais.
É também importante diferenciar as questões de gênero das de sexo e sexualidade. Sexo refere-se aos atributos e características biológicas que identificam uma pessoa como sendo homem ou mulher. Sexualidade é a expressão de nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos relacionados a ser homem ou mulher, seja em relação ao amor ou ao sexo.
É também importante diferenciar as questões de gênero das de sexo e sexualidade. Sexo refere-se aos atributos e características biológicas que identificam uma pessoa como sendo homem ou mulher. Sexualidade é a expressão de nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos relacionados a ser homem ou mulher, seja em relação ao amor ou ao sexo.
As questões de gênero são complexas e múltiplas, ou seja, variam de acordo com a cultura e o momento histórico, e permite algumas adaptações para cada homem e cada mulher, a partir das histórias e escolhas particulares.
O trabalho com as questões de gênero com os jovens no mundo atual configura um desafio, porque os adultos trazem em suas identidades, marcas de um outro tempo que, muitas vezes, entram em conflito com as referências dos jovens, provocando um desencontro. Além disso, estamos vivendo um momento de intensas transformações que, como qualquer crise, carrega um grande potencial de mudanças importantes, mas também muitas indefinições, incertezas e angústias.
Fazendo um breve panorama da realidade social, observamos pontos de vulnerabilidades e potencialidades tanto para os homens quanto para as mulheres.
As mulheres mantém suas identidades dentro de normas clássicas, tais como: ser comportada, ter desejo de agradar, ser mais contida sexualmente, exercer tarefas mais ligadas ao cuidado dos outros, valorizar a maternidade. Ao mesmo tempo, estão assimilando novas conquistas de direitos ao trabalho fora de casa, ao poder de também ser provedora do lar e de maior autonomia sexual.
Os homens mantêm presos ao valor do lugar de provedor do lar, de trabalhar muito para ganhar mais dinheiro, de ter mais força física e ter sua sexualidade intensificada. Ao mesmo tempo, eles tem podido expressar mais suas emoções, dividir mais as tarefas do lar e dos cuidados com quem amam.
Estas adaptações não são fáceis e tem provocados efeitos preocupantes, inclusive, para a saúde pública. As mulheres, por exemplo, tem ficado hipertensa, estressadas e muito ansiosas para tentar dar conta de todas as expectativas; os homens tem se demonstrado mais deprimidos e inseguros, reagindo a isso com o “mergulho” no alcoolismo, em atitudes violentas, ou mesmo em depressões. Percebe-se, portanto, uma crise de identidade de gênero e, nesse sentido, o trabalho com adolescentes não pode estabelecer respostas fechadas e definitivas do que é ser homem ou ser mulher.
Porém, pode ser fundamental para que no encontro entre adultos e jovens possam emergir novas possibilidades criativas e potentes que se fundamentem relações de cuidado e respeito entre homens e mulheres. Para isso, todos precisam se abrir para novas posições sociais, sem se prender em pré-conceitos, visando sempre a igualdade perante os direitos humanos, e a diferença perante as possibilidades diversas, dinâmicas e criativas de socialização e interação entre homens e mulheres.
Relações de Gênero
O estudo das questões de gênero tem sido imprescindível para a melhoria das relações humanas e sociais, relações de gênero e mundo do trabalho (o que é trabalho de homem e o que é trabalho de mulher) destacando-se, por exemplo, como homens e mulheres se inserem neste processo. A discussão sobre, possibilita a realização de uma avaliação de como as divisões sexual e social do trabalho, culturalmente instituídas, podem ser modificadas.
As relações de gênero se processam de maneira bastante complexa, sendo vivenciadas de forma “tradicional”, revelando aspectos como as dominações masculinas e a pouca visibilidade feminina nos espaços públicos e nas esferas de decisão. O que reforça a relevância das discussões das relações de gênero, estimulando os debates sobre os papéis desempenhados por homens e mulheres na família e no mundo do trabalho e causando impacto através da transformação de práticas cotidianas e de uma nova compreensão de como se dão as relações entre homens e mulheres e de como elas são socialmente instituídas. O espaço familiar constitui o primeiro momento da instituição das relações de gênero, “a família é considerada o lugar de socialização das crianças, o lugar onde se criam e se educam. É na família que as crianças fazem seus primeiros aprendizados para a divisão sexual do trabalho e é nesse ambiente que elas adquirem grande parte da sua identidade de gênero, ou seja, é na família que a criança começa a aprender o que é “ser homem” e o que é “ser mulher”. As relações sociais são uma via de duas mãos. A minha ação provoca/direciona/sugere a reação do outro, com quem me relaciono autoritarismo/submissão. Quando há uma mudança na ação de um dos envolvidos há, automaticamente uma mudança na reação do outro. É como um efeito em cadeia. Eu só me liberto do outro a partir do momento em que possibilito que o outro se liberte de mim.
Essas discussões fundamentam para a compreensão de como a esfera do trabalho, por exemplo, influencia diretamente na concepção de família, principalmente após a Segunda Guerra Mundial quando a mulher é “forçada” a retornar ao lar, reassumindo as funções de esposa e mãe, ou seja, de responsável direta pela reprodução da família. Esse movimento implicou a construção de uma nova cultura. É de fundamental importância entender as lógicas e os valores que predominam nas esferas do trabalho, as identidades que estão sendo criadas. É através da compreensão desses elementos que podemos desvendar o social e os lugares que ocupamos. Os aspectos subjetivos do mundo do trabalho, que vêm sendo delimitados pelas empresas, não se restringem apenas às mulheres, implicam também na configuração das relações de gênero, uma vez que influenciam e regem o cotidiano. Neste sentido, as condições de trabalho e a discriminação das mulheres, sobretudo no que se refere aos baixos salários ampliam cada vez mais os abismos sociais entre os homens e as mulheres.
O trabalho da mulher está diretamente relacionado à questão da “identidade feminina”, ou seja, às funções de reprodução. Culturalmente, o trabalho feminino tem sido considerado uma extensão da vida privada, do lar. Nessa perspectiva, “a atividade econômica das mulheres é descontínua, basicamente em razão dos momentos cruciais de seu ciclo vital, dos quais o mais relevante é a maternidade. Além disso, a presença ou ausência de um companheiro e filhos na unidade doméstica, e a residência urbana ou rural são fatores que exercem um efeito marcante sobre as possibilidades de inserção das mulheres nos mercados de trabalho”.
Recurso metodológico, o vídeo, sobre as relações de gênero. Curta metragem Acorda Raimundo Acorda que tem como enredo o sonho de Raimundo que passa a viver o papel desempenhado pela mulher e vice-versa. A trama revela muitas situações do cotidiano, nas quais mulheres e homens reproduzem comportamentos e ações que, cultural e socialmente, são consideradas “naturais e inerentes às condições femininas e masculinas”. O filme motiva a uma acalorada discussão sobre a construção dos papéis sexuais e sociais e de como estes são reproduzidos no cotidiano da família, da escola e do trabalho.
Referências bibliográficas
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