Desde a antiguidade, tem-se
tentado explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir das
diversidades genéticas ou geográficas. As características biológicas não são
determinantes das diferenças culturais: por exemplo, se uma criança brasileira
for criada na França, ela crescerá como uma francesa, aprendendo a língua, os
hábitos, crenças e valores dos franceses. Podemos citar, ainda, o fato de que
muitas atividades que são atribuídas às mulheres numa cultura são
responsabilidade dos homens em outra.
O ambiente físico também não explica a
diversidade cultural. Por exemplo, os lapões e os esquimós vivem em ambientes
muito semelhantes – os lapões habitam o norte da Europa e os esquimós o norte
da América. Era de se esperar que eles tivessem comportamentos semelhantes, mas
seus estilos de vida são bem diferentes. Os esquimós constroem os iglus
amontoando blocos de gelo num formato de colmeia e forram a casa por dentro com
peles de animais. Com a ajuda do fogo, eles conseguem manter o interior da casa
aquecido. Quando quer se mudar, o esquimó abandona a casa levando apenas suas
coisas e constrói um novo iglu.
Outro exemplo são as tribos de índios que habitam uma mesma área
florestal e têm modos de vida bem diferentes: algumas são amigáveis, enquanto
outras são ferozes; algumas se alimentam de vegetais e sementes, outras caçam;
têm rituais diferentes; etc. O comportamento dos indivíduos depende de um
aprendizado, de um processo chamado endoculturação
ou socialização. Pessoas de raças ou sexos diferentes têm comportamentos
diferentes não em função de transmissão genética ou do ambiente em que vivem,
mas por terem recebido uma educação diferenciada. Assim, podemos concluir que é
a cultura que determina a diferença de comportamento entre os homens. O homem
age de acordo com os seus padrões culturais, ele é resultado do meio em que foi
socializado.
Para Edward Tylor, 1871:
Cultura é o todo complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Taylor,
foi o primeiro a formular o conceito de cultura do ponto de vista antropológico
da forma como é utilizado atualmente. Na verdade, ele formalizou uma idéia que
vinha crescendo desde o iluminismo. John Locke, em 1690, afirmou que a mente
humana era uma caixa vazia no nascimento, dotada de capacidade ilimitada de
obter conhecimento, através do que hoje chamamos de endoculturação, Tylor
enfatizou a idéia do aprendizado na sua definição de cultura.
O homem é um ser predominantemente cultural.
Graças à cultura, ele superou suas limitações orgânicas. O homem conseguiu
sobreviver através dos tempos com um equipamento biológico relativamente
simples. Um esquimó que deseje morar num país tropical, adapta-se rapidamente,
ele substitui seu iglu e seus grossos casacos por um apartamento refrigerado e
roupas leves – enquanto o urso polar não pode adaptar-se fora de seu ambiente.
A cultura é o meio de adaptação do homem aos
diferentes ambientes. Ao invés de adaptar o seu equipamento biológico, como os
animais, o homem utiliza equipamentos extraorgânicos. A cultura é um processo
acumulativo. O homem recebe conhecimentos e experiências acumulados ao longo
das gerações que o antecederam e, se estas informações forem adequada e
criativamente manipuladas, permitirão inovações e invenções. Assim, estas não
são o resultado da ação isolada de um gênio, mas o esforço de toda uma
comunidade.
A cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo – pessoas de
culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas
das coisas.
O fato de que o homem vê o mundo através de
sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida
como o mais correto e o mais natural (isso é denominado etnocentrismo), depreciando o comportamento daqueles que agem fora
dos padrões de sua comunidade – discriminando o comportamento desviante.
Comportamentos etnocêntricos resultam em
apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes, práticas de
outros sistemas culturais são vistas como absurdas.
O etnocentrismo é um comportamento universal.
É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade.
Qualquer sistema cultural está num contínuo
processo de mudança. O tempo é um elemento importante na análise de uma
cultura.
Assim, da mesma forma que é importante para a
humanidade a compreensão das diferenças entre os povos de culturas diferentes,
é necessário entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema.
ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA
A existência humana é marcada pela cultura e é
ela a própria fundamentação da humanidade. Cultura é criação/ aprendizagem/
criação. É modificada, enriquecida, num processo constante, consciente e
inconsciente, por acaso e por necessidade. Por isso a cultura marca, registra e
pauta as condutas humanas. O ser humano é muito pouco programado.
CULTURA: UM CONCEITO
ANTROPOLÓGICO
Pretende-se aqui delinear a evolução do
conceito de cultura, pinçando idéias defendidas no passado tais como, o
determinismo biológico, geográfico, antecedentes históricos do conceito de
cultura, mostrando a conciliação da unidade biológica e da grande diversidade
cultural da espécie humana. O desenvolvimento do conceito de cultura, idéias
sobre a origem da cultura e teorias modernas sobre cultura organizacional e,
fatores que compõem a cultura brasileira.
Origem da cultura e antecedentes
históricos do conceito de cultura
O termo cultura segundo o Novo Dicionário da
língua portuguesa significa “ato, efeito ou modo de cultivar. Complexo dos
padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores
espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característica de uma
sociedade.”
Desenvolvimento do conceito de
cultura
O determinismo biológico, bem como o
geográfico são idéias que no passado foram consideradas relevantes para
conceituar cultura. Com o passar do tempo diversas investigações foram
realizadas e chegou-se a conclusão de que estas teorias, apesar de terem sido
importantes para o entendimento de algumas dimensões da natureza humana,
apresentando limitações e inconsistência para o entendimento do conceito de
cultura. Aí então, inaugura-se uma nova fase de estudos e interpretação de
culturas.
Comportamentos compartilhados são
componentes da cultura o que nos leva inclusive a afirmar que, teorias
behavioristas (Watson – condicionamento), Cognitivista (Piaget-psicogenética)
quando aplicadas, mesmo que inconscientemente por um grupo de pessoas
determinam algumas características culturais em relação ao padrão de
comportamento. Normas impostas por organizações determinam padrões de
comportamento, marcando de forma indelével a cultura organizacional. Portanto,
pode-se afirmar que diferenças culturais não são genéticas e sim adquiridas no
decorrer do tempo.
Teorias modernas sobre cultura
A utilização da antropologia para a análise
organizacional deve-se ao fato de que esta área do conhecimento consegue
abranger as dimensões da linguagem, do simbolismo, do espaço, do tempo e da
cognição. A abordagem antropológica intensificou-se na década de 80, inclusive
gerando críticas pelo uso acrítico, explicando tudo e qualquer coisa através do
conceito de cultura. Porém, para seus defensores o grande mérito desses estudos
foi justamente chamar a atenção para a dimensão simbólica que permeia a
organização e os seus grupos. A necessidade de encontrar os significados das
relações entre os elementos da cultura de uma organização e que dão sentido ao
quotidiano das mesmas justifica o apelo ao estruturalismo, do qual Geertz
(1989) é um dos representantes.
Para Geertz (1989: 15) o conceito de cultura é
essencialmente semiótico, que vem de encontro com o pensamento de Max Weber
“que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu”.
Geertz concebe a cultura como uma “teia de significados” que o homem tece ao
seu redor e que o amarra. Busca-se apreender os seus significados (sua
densidade simbólica).
Um dos métodos utilizados para entender a
cultura é a descrição etnográfica que se baseia nas palavras dos informantes e
o pesquisador interpreta-a e compartilha os significados juntamente com seus
informantes, ou seja, aqueles que na verdade possuem o roteiro simbólico do que
concebem e articulam logicamente entre suas visões de mundo. O respeito
rigoroso à visão que os nativos têm sobre os aspectos analisados (sobre si
mesmo, seus conhecimentos e práticas cotidianas, sua concepção do mundo) é
fundamental.
Ao se analisar a cultura organizacional sob a
ótica antropológica, faz-se necessário interpretar e decodificar a visão de
mundo subjacente aos sistema de gestão utilizados e praticados pelas
organizações. Pois a prática etnográfica estabelece relações e sendo assim é
dialógica, ou seja é uma via de mão dupla, na qual o mesmo objeto ou fato deve
ser visto e sentido do mesmo modo, o que requer uma descrição densa do que se
está diagnosticando, que segundo Goodenough apud Geertz (1989: 21) “a cultura
(está localizada) na mente e no coração dos homens”.
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