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segunda-feira, 7 de maio de 2012

O que é etnocentrismo?


Para o famoso antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009), etnocentrismo seria a recusa em “admitir o próprio fato da diversidade cultural”. Temos aí um tema que nunca saiu da pauta acadêmica e, hoje, está inconscientemente presente nas discussões jornalísticas.

Assim, etnocentrismo seria a tendência do pensamento, especialmente ocidental, de considerar as categorias, normas e valores da nossa própria sociedade, ou cultura, como parâmetro passível de ser aplicado a todas as demais. Atitude que, hoje reconhecemos, atribui juízo de valor meramente pessoal, ou mesmo de determinadas “autoridades”, atrelando uma “metodologia sociológica” para a diferença entre as culturas. Será que alguém já fez isso algum dia na vida?

O papel do cientista social, ou dos que trabalham com a cultura, não é dizer como “deve ser” uma sociedade, mas como “ela é” (oposição entre “dever ser” versus “ser”). A busca do entendimento do por que algo aconteceu, sem impor a sua opinião, lembrando que a diversidade também é demonstradora de uma cultura. Privilegiar um referencial teórico-prático que segue o padrão da racionalidade, escolhendo um único tipo de cultura e educação com ele compatíveis, cria o conceito de “cultura hegemônica” e “culturas subalternas”. Esta é uma atitude combatida atualmente. As culturas diferentes da nossa, ou com orientações incompatíveis com o referencial escolhido, eram até o estabelecimento da Antropologia e da Sociologia alvos de uma redução das suas especificidades e diferenças. 

O (também) etnólogo Lévi-Strauss criticou o “falso evolucionismo” racionalista como a tentativa de suprimir a variedade cultural. A diversidade, inerente ao nosso mundo, evidencia que o pensamento etnocêntrico não reconhece a variedade de culturas como importante para compreendermos as nossas origens, de onde viemos e para onde vamos. Para Strauss, as culturas ocidentais “olham” para as outras com o olhar atual, do hoje, criando um anacronismo na formação de opinião. Reconhecer isso prova que não há uma “raça superior” a outra, apenas diferenças simbólicas.

Antes de Strauss, os academicistas classificavam as sociedades tribais como “bárbaras”, principalmente as ágrafas, ou “sociedades frias”. Só valia como prova da “evolução cultural” a escrita de um povo, a existência de documentos que marcassem a diacronia histórica. Era uma espécie de medida do “progresso e da tecnologia” daquela cultura que estava sendo estudada. Até os sistemas políticos estudados deveriam ser próximos do que era estruturado mentalmente pela sociedade ocidental. Havia uma linha de progresso, como espécie de “medidor das sociedades”, apesar das grandes diferenças que existiam entre elas. A humanidade deveria tornar-se una e idêntica em si mesma com o passar do tempo. A diversidade não passaria de etapas em um único desenvolvimento geral.

 O estudante, em qualquer grau, mantendo o perfil sociológico moderno, deve ter em mente que o etnocentrismo deve ser evitado enquanto atitude metodológica. Estamos em uma sociedade global, diversificada, múltipla: “Há muito mais culturas humanas do que raças humanas” explicita Lévi-Strauss no seu texto “Raça e História” (Cap. XVIII, Raça e História. LÉVI STRAUSS, C. Antropologia Estrutural Dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976.). A diversidade não deve ser a observação fragmentada de cada um de nós. Ela existe em função das relações que une os grupos, muito mais do que o isolamento destes. Ainda Strauss: “não existem povos infantes: todos são adultos, mesmo os que não mantiveram um diário de sua infância e adolescência”.

A afirmação simplista, de uma suposta “igualdade natural” para todos, pode levar a equívocos, pois não é possível colocar de lado a diversidade que existe, de fato, entre as culturas. Isso exterminaria a diversidade que tanto nos atrai, ou seja, a beleza que há na diferença, no novo que desejamos conhecer.

O homem se realiza em culturas tradicionais e diversas. E as modificações se explicam em função de situações definidas no tempo e no espaço que temos que buscar entender, sem preconceitos.
ANTROPOLOGIA CULTURAL, O QUE É ISTO?



Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970:377) a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e  última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.  Qualquer que seja a definição adotada é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.
Por que integrantes de classes populares demoram mais para ser alfabetizados?

Conhecer a realidade em que vivem os estudantes ajuda o professor a ensinar melhor?

Sem dúvida. Muita gente pensa que a origem social é um obstáculo natural para a aprendizagem. Mas classes populares são formadas por uma diversidade enorme de culturas, valores e etnias. É impossível tirar uma conclusão e generalizar.


A Antropologia visa o conhecimento completo do homem, o que torna suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceitualização mais ampla a define como ANTROPOLOGIA CULTURAL. Tenta compreender a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca, também, a compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da vida social.








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