Para o famoso antropólogo francês Claude Lévi-Strauss
(1908-2009), etnocentrismo seria a recusa em “admitir o próprio fato da
diversidade cultural”. Temos aí um tema que nunca saiu da pauta acadêmica e,
hoje, está inconscientemente presente nas discussões jornalísticas.
Assim, etnocentrismo seria a tendência do pensamento,
especialmente ocidental, de considerar as categorias, normas e valores da nossa
própria sociedade, ou cultura, como parâmetro passível de ser aplicado a todas
as demais. Atitude que, hoje reconhecemos, atribui juízo de valor meramente
pessoal, ou mesmo de determinadas “autoridades”, atrelando uma “metodologia
sociológica” para a diferença entre as culturas. Será que alguém já fez isso
algum dia na vida?
O papel do cientista social, ou dos que trabalham com a
cultura, não é dizer como “deve ser” uma sociedade, mas como “ela é” (oposição
entre “dever ser” versus “ser”). A busca do entendimento do por que algo
aconteceu, sem impor a sua opinião, lembrando que a diversidade também é
demonstradora de uma cultura. Privilegiar um referencial teórico-prático que
segue o padrão da racionalidade, escolhendo um único tipo de cultura e educação
com ele compatíveis, cria o conceito de “cultura hegemônica” e “culturas
subalternas”. Esta é uma atitude combatida atualmente. As culturas diferentes
da nossa, ou com orientações incompatíveis com o referencial escolhido, eram
até o estabelecimento da Antropologia e da Sociologia alvos de uma redução das
suas especificidades e diferenças.
O (também) etnólogo Lévi-Strauss criticou o “falso
evolucionismo” racionalista como a tentativa de suprimir a variedade cultural.
A diversidade, inerente ao nosso mundo, evidencia que o pensamento etnocêntrico
não reconhece a variedade de culturas como importante para compreendermos as
nossas origens, de onde viemos e para onde vamos. Para Strauss, as culturas
ocidentais “olham” para as outras com o olhar atual, do hoje, criando um
anacronismo na formação de opinião. Reconhecer isso prova que não há uma “raça
superior” a outra, apenas diferenças simbólicas.
Antes de Strauss, os academicistas classificavam as
sociedades tribais como “bárbaras”, principalmente as ágrafas, ou “sociedades
frias”. Só valia como prova da “evolução cultural” a escrita de um povo, a
existência de documentos que marcassem a diacronia histórica. Era uma espécie
de medida do “progresso e da tecnologia” daquela cultura que estava sendo
estudada. Até os sistemas políticos estudados deveriam ser próximos do que era
estruturado mentalmente pela sociedade ocidental. Havia uma linha de progresso,
como espécie de “medidor das sociedades”, apesar das grandes diferenças que
existiam entre elas. A humanidade deveria tornar-se una e idêntica em si mesma
com o passar do tempo. A diversidade não passaria de etapas em um único
desenvolvimento geral.
O estudante, em
qualquer grau, mantendo o perfil sociológico moderno, deve ter em mente que o
etnocentrismo deve ser evitado enquanto atitude metodológica. Estamos em uma
sociedade global, diversificada, múltipla: “Há muito mais culturas humanas do
que raças humanas” explicita Lévi-Strauss no seu texto “Raça e História” (Cap.
XVIII, Raça e História. LÉVI STRAUSS, C. Antropologia Estrutural Dois. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976.). A diversidade não deve ser a observação
fragmentada de cada um de nós. Ela existe em função das relações que une os
grupos, muito mais do que o isolamento destes. Ainda Strauss: “não existem
povos infantes: todos são adultos, mesmo os que não mantiveram um diário de sua
infância e adolescência”.
A afirmação simplista, de uma suposta “igualdade natural”
para todos, pode levar a equívocos, pois não é possível colocar de lado a
diversidade que existe, de fato, entre as culturas. Isso exterminaria a
diversidade que tanto nos atrai, ou seja, a beleza que há na diferença, no novo
que desejamos conhecer.
O homem se realiza em culturas tradicionais e diversas. E as
modificações se explicam em função de situações definidas no tempo e no espaço
que temos que buscar entender, sem preconceitos.
ANTROPOLOGIA CULTURAL, O QUE É ISTO?
Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970:377) a
etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e
descrição trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um
primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as
conclusões da etnografia e da etnologia”.
Qualquer que seja a definição adotada é possível entender a antropologia
como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de
respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo
“Outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e
culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas
possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos
torna seres singulares, humanos.
Por que integrantes de classes populares demoram mais para
ser alfabetizados?
Conhecer a realidade em que vivem os estudantes ajuda o
professor a ensinar melhor?
Sem dúvida. Muita gente pensa que a origem social é um
obstáculo natural para a aprendizagem. Mas classes populares são formadas por
uma diversidade enorme de culturas, valores e etnias. É impossível tirar uma
conclusão e generalizar.
A Antropologia visa o conhecimento completo do homem, o que
torna suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma
conceitualização mais ampla a define como ANTROPOLOGIA CULTURAL. Tenta
compreender a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no
tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca, também, a
compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da vida social.
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